19/03/2002


Tenho lido ultimamente em alguns blogs o descontentamento dos autores sobre a qualidade do material encontrado por ai, em outros blogs. Muitas críticas sobre a qualidade, muitas críticas sobre o egocentrismo de alguns blogueiros, muitas esculhambações sobre o que o modismo está gerando, apelos da "comunidade" contra pessoas que mantém um blog como ferramenta de marketing pessoal, outras que procuram ganhar respeito na "comunidade" pelo número de page views, e por ai vai.

Aqui os meus dois centavos sobre o assunto. Crianças, não se peguem no apelo purista do ineditismo. Não critiquem o meio pelo fim ao qual ele leva. Sou novato nesta brincadeira (sim, para mim é uma ótima brincadeira) mas acho que tenho algumas boas opiniões sobre o tema.

Não se pode pedir que num ferramental totalmente novo de disseminação de informação, ainda um ferramental totalmente libertário, onde qualquer um no mínimo interessado pode fazer uso, que existam regras de conduta a serem seguidas. Vejo um sentimento de revolta, principalmente pelo "pessoal da velha guarda" contra coisas publicadas por ai. Oras bolas, o criatura ultrapassou o criador. Quem desbravou essa mata com certeza deve se sentir traído pelo fato de que tudo aquilo que ele ajudou a concretizar tenha saído do caminho que ele mesmo trilhou para a criatura. Porém a criatura criou vida, e segue o seu caminho usando o seu livre arbítrio, cabe a nós acompanhar seus passos e ver onde a brincadeira vai dar.

Sou totalmente contra discursos inflamados baseados no purismo exarcebado de alguns. Nunca poderemos discutir sobre qualidade. Nunca poderemos discutir sobre propósitos ou intenções, sem sermos ditadores. Existe material ruim? Não leia! Existe utilização imprópria, segundo os nossos princípios? Não leia. E não critique. Você também pode ter um material ruim (perante alguns) e também pode fazer uma utilização imprópria dos meios (perante outros). É exatamente esta pluralidade que mantém a chama acesa, fomenta novas idéias, agrada a todos.

Usando um bom exemplo, principalmente em termos de "qualidade", vou citar a existência de um "sub-mundo" ao qual obtive bastante contato ultimamente através da moleca. É o mundo do Forró paulistano. Não aquele forró universitário, que toca na globo, movido por Falamansa ou Rastapé. É o forró a ser consumido pelo público nordestino de São Paulo, movido por bandas como Calcinha Preta, Toca do Vale, Wesley dos Teclados e outras pérolas. Qualidade? Para meu gosto e o de todas as pessoas que me cercam pessoalmente, ZERO! Porém existe um público consumidor gigantesco para este produto. Publico fiel, frequentador, que comparece a shows, compra CDs, lota casas de forró com 10.000 pessoas de segunda a segunda. As músicas são em sua maioria versões de músicas estrangeiras, com letras "romanticas" (?!?), onde se alterou um pouco o ritmo e se incluiu uma sanfona, muitas vezes um teclado disfarçado imitando o timbre. Musicas de bandas com Scorpions (Winds of Change), Nazareth (Love Hurts), Kansas (Dust in the Wind) foram adaptadas (e olha que a lista é bem extensa) para este público.

Como poderemos tratar esse tipo de" utilização errada" do meio de propagação, seja a rádio que toca estas músicas, seja as trocentas gravadoras independentes que gravam estes CDs (e olha que esse povo GRAVA muito. 3 ou 4 CDs por ano por banda)?. Talvez escrevendo matérias críticas, talvez reclamações na mídia, a mesma mídia que eles utilizam, talvez fazendo uma careta e um muxoxo... Oras bolas, isso é inútil. Deixe o dia rolar, porque existe espaço para todos, existe público para todos, e existe gente que vai gostar de um, odiar o outro, e vice-versa.

E tenho dito! (acho...)