24/05/2002


Tendo em vista o fato de que não estou conseguindo postar nada que preste sobre o dia a dia sacal, e a gigantesca repercursão que causou o tal do post do "currículo" (dois comments :-) o Uatafóc orgulhosamente e neste exato instante entra numa fase autobiográfica, apresentando : "A gênese de um babaca", estrelando : Junior, este imbecil que lhes escreve :

Eu nasci no dia 04 de março de 1971 no Hospital do Servidor Público em São Paulo, capital, as 17 horas e 30 minutos, filho de mãe costureira, pai leitor de hidrômetro da sabesp, tendo uma irmã 5 anos mais velha e uma irmã do meio, já falecida, com 2 anos a mais. Pela falta de criatividade de meus pais, a priori eu deveria me chamar José Rodrigues ..... Neto, porém, num ímpeto absurdo de iluminação, meu pai optou por não homenagear o pai dele, que ele nunca conheçeu (faleceu antes do nascimento de meu pai) e resolveu, seguindo totalmente sua personalidade, se auto-homenagear, me dando o karma de carregar esse nome, José Antonio .... Junior. É, comecei bem mal antes mesmo de entender o que estava acontecendo.

Quando eu tinha 6 meses de idade meus pais sofreram um grave acidente de carro, e tive que ser criado por 4 meses por uma tia, irmã de minha mãe, que após a recuperação de ambos não queria mais me devolver. No final tudo acabou bem. Era um bebê lindo (coloco fotos depois), gordinho, rosado e totalment calmo. Ao que consta, apenas dormia e mamava, não dava trabalho nenhum, apesar de essa versão ser dada pela pessoa mais suspeita do mundo, minha própria mãe.

Aos 3 anos de idade nos mudamos de São Paulo para a baixada santista, mas precisamente para a cidade de Itanhaém, onde passei minha infância e parte da minha adolecência. Meu pai foi transferido para o DAEE (Sabesp do litoral) e minha mãe fechou sua oficina de costura. Fomos morar numa casa incrustrada num morro. Não era favela, o nome pelo qual se chama hoje (morro), mas sim um morro com mata fechada e apenas uma casa, a nossa. Tinha uma escadaria gigantesca para subir da rua até a casa. Ao que me consta essa casa pertencia ao DAEE e foi cedida a nossa família. A 2 anos atrás estive em Itanhaém para um peregrinação pelas minhas raízes e passei por todas as casas por onde morei lá. Foram 4 casas e a do morro ainda está lá, mas totalmente abandonada. Dessa fase me lembro de 3 passagens que marcaram. A primeira foi meu cachorro (não lembro o nome), que era um filhote e foi atropelado pelo caminhão do lixo. Nesse episódio tomei conhecimento da morte. A segunda foi um pintinho (minha mãe criava galinhas) que foi morto por um gavião e uma construção que foi feita na rua (uma casa do outro lado). Lembro de ter pedido um copo de concreto (tinha 4 anos) aos pedreiros e fiz um calombo de cimento ao lado do calçada, em frente a casa. Nesse calombo enfiei minha mão. Ele ainda está lá :-)

Após esse curto período nessa casa (1 ou 2 anos) nos mudamos de bairro, indo para um bairro caracterizado por casas de veraneio. Fomos ser caseiros em uma dessas casas, morando na edícula do fundo, formada por duas suites. Em uma ficavam meu pai e mãe, na outra eu e minha irmã. Nessa casa, alguns acontecimentos marcantes ocorreram, como a minha primeira tentativa de fugir de casa (tinha 5 anos), o meu primeiro debate de alto nível com um adulto, que era a professora da primeira escola que minha mãe tentou me colocar. Eu, sem choro e sem escândalo consegui convencê-la que meu lugar não era lá e a fiz me levar, no meio do dia, para casa. Sempre fui assim, calmo, quieto, tímido. Na segunda tentativa minha mãe conseguiu me colocar em outra escolinha. Nesta eu fiquei aproximadamente 1 mês, até que as "tias" se cansaram de mim. Minha mãe, sem ver outra saída, acabou cedendo. Eu falava : "Quero estudar no Sítio do PicaPau Amarelo. Me coloca lá que eu fico." - Pois bem, minha mãe me colocou pra estudar lá e lá fiquei por um ano, fazendo o pré primário. Sempre fui assim, desde moleque. Quando falo uma coisa, cumpro. Mesmo que seja só por teimosia.

Nessa fase meu pai já havia mudado de emprego, e a situação da família estava melhorando financeiramente. Ele havia aberto um escritório de topografia e começou a ganhar dinheiro. De marcante também ficaram duas coisas. Pela primeira vez fui punido na escola. Aos 6 anos de idade perseguia as meninas, junto com o companheiro Rogério Fisher, armado de faquinhas plásticas que vinham no rocambole Seven Boys. E a perda da minha professora querida, a Tia Rosélia, que chamávamos de Tia Grosélia (ou lha, como preferir), que sofreu um derrame. Me lembro perfeitamente que na época, não sei porquê, ficou marcado entre os alunos que ela havia tomado um choque do gravador que usávamos pra ensaiar a música da formatura. Acho que foi uma desculpa dada pela diretora, que era a mãe da Daniela, para ela ter desmaiado no meio do ensaio.

Na formatura do pré, na colação de grau usei calças curtas e uma camisa amarela que minha mãe tinha feito, e no espetáculo dado pelos formandos, estávamos todos vestidos de "mato", fantasia composta de um colant verde e tiras de papel crepon da mesma cor. Já brincávamos pela grossura das tiras de quem era o Ney MatoGrosso, o Ney MatoFino e o Ney MatoMédio. Neste espetáculo tocamos diversos instrumentos musicais, como tambores, triângulos e um que era formado por dois pedacinhos de pau que deviamos bater um contra o outro. Fui um virtuose neste último instrumento. As fotos desse evento mágico seguem depois (preciso arrumar meu scanner).

Assim foi a primeira fase da minha vida, do nascimento até a entrada definitiva na vida escolar.

No próximo capítulo : A primeira série do primeiro grau, a família enriquece, a família empobrece totalmente até a fome e minha entrada no mercado de trabalho...