31/05/2002

Mais um post gigantesco...

A Gênese de um Babaca - Capítulo II

Como vimos no capítulo anterior, me formei no pré-primário. Esse ano foi fundamental na vida da
família. Como disse antes, neste ano meu pai havia montado um escritório de topografia, e junto
com um sócio conseguiu construir um bom patrimônio. Abriu também um depósito/loja de materiais
para construção, uma fábrica de blocos, conseguiu comprar 4 caminhões para entregas, conseguimos
construir a nossa casa própria, montou uma concessionária de caminhões da Ford. Nesta época tínhamos
4 carros novos na garagem, um fusca, uma rural, um passat e um landau, que, na época era carros
muito bons. No desenrolar desses dois anos (o do pré e o da primeira série) muita coisa aconteceu.

Em primeiro lugar fui matriculado na melhor escola da cidade, o EEPG Benedito Calixto, que apesar
de público era o melhor (não existiam escolas particulares em Itanhaém). Minha turma de pré interia
foi matriculada na mesma escola, porém fomos pulverizados em 4 turmas diferentes.

Como a mãe da Daniela era, além de dona do Sítio a diretora desta escola, no primeiro dia de aula
ela fez uma romaria por todas as salas e tomou uma atitude que mudou os meus 8 anos seguintes. Foi
de sala em sala pegando um por um da turma do pré e montou uma sala só para nós. Estudamos todos
juntos da primeira até a oitava.

Porém, nesse ano começou a primeira ruina da família. Meu pai sempre foi um cara que trabalhou muito
duro, porém também sempre foi um cara sem a menor cabeça. Sempre foi mulherengo pra caramba, sempre
com mais mulheres além da minha mãe. Também sempre foi muito crédulo em relação a amizades, e somando
tudo isso conseguiu jogar no lixo tudo o que ele tinha conquistado. Em dois anos, saiu de leitor de
hidrômetro para proprietário de 3 empresas e de novo pro fundo do poço. Ao término destes 2 anos,
sobrou com dinheiro apenas para montar uma pequena banca de jornais na frente do Hospital de Itanhaém,
através de amigos conseguiu um emprego de gerente do clube da cidade e acabou perdendo até a nossa
casa, que, apesar de ainda morarmos nela, estava "penhorada" com uma prima dele, que emprestou uma grana
para quitar as dívidas.

Como ele tinha que trabalhar como gerente do clube, acabou sobrando a banca de jornais para o resto da
família tocar. Minha mãe voltara a costurar, logo eu e minha irmã é que deveríamos tocar a banca, e,
como minha irmã estudava pela manhã e eu a tarde, revesávamos. Chegava as 4 da manhã para abrir a
banca e receber os jornais do dia e ficava até a hora do almoço, quando minha irmã chegava pra me
"render". Era uma vida muito dura, ainda mais para um criança de 7 para 8 anos, que mal sabia ler
e queria estar na rua brincando com as outras crianças. Nessa época, forçosamente desenvolvi o meu
gosto pela leitura.

Foi nessa época também, que por todas as dificuldades da família, cheguei a passar fome. E também
fui obrigado a perder totalmente a vergonha, tendo de pedir na padaria do japonês para comprar fiado.
Meu pai não podia passar na frente pra não ser cobrado e o japonês, acho que muito por pena, sempre
me vendia pão, leite e outras coisas, anotando no fiado.

Vou parar um pouco por aqui. Depois retomo.

No próximo capítulo. A família se ergue. Minhas paixões de infância, meu primeiro beijo. Enfim,
minha vida pessoal dos 7 aos 14 anos...