O incrível roubo do horizonte
Foi num final de agosto onde as pessoas normais não se lembrariam se ainda era inverno ou já era primavera. Independente das convenções do calendário o calor era insuportável, tornando cansativo o ato de viver. Algo como respirar dentro de uma sauna à vapor dentro de uma sauna seca.
A esperança já tinha morrido e o céu em tonalidades de verde cansava os olhos da imaginação. Eu queria uma passagem só de ida. Mas a passagem não ia me adiantar porque haviam roubado o horizonte. Não aquele figurado que fala de amplidão e de possibilidades, mas o literal que me devolvia o fôlego. Não existe horizonte sem azul.
Restava apenas as gotas de suor com sabor de sangue que me escorriam pelo rosto, insistindo em entrar dentro dos meus olhos e fazê-los arder. Se ao menos o suor fosse amarelo, poderia ressussitar um pouco da esperança. Porque desde criança eu aprendí que se você misturar as cores azul e amarelo o resultado é verde. Se o suor fosse amarelo e não vermelho poderia eu duvidar do céu verde. Ele seria azul, verde seria apenas a minha percepção dele. Daí talvez o horizonte voltasse a existir e eu poderia pensar na passagem derradeira e sem volta.