O Show de Truman
Sim, eu sou um alienado em termos de cinema. Sim, eu nunca lembro o nome de atores, diretores, figurantes. Sim, eu não assistí aquele filme ótimo que vc adorou. mas sim, eu tenho bom gosto e sensibilidade.
Ontem, em mais um crise de insônia (sim, elas estão mais constantes do que nunca) me ví as 4:30 da manhã assistindo o Show de Truman, inédito até então.
Gostei bastante. Meio bobinho as vezes, carrega uma aura de sentimentalismo até que idiota, tenta fazer uma crítica à banalização da vida, ao poder da mídia, a manipulação da vida. Tá bom, achei o filme uma merda. Mas uma coisa valeu MUITO a pena, o fim! Não, não estou falando da emocionante hora que ele "berra" dizendo que não existe uma câmera dentro da cabeça dele, não estou falando da forte cena dele saindo pela porta, quebrando os grilhões que o prendiam a uma realidade inexistente. Tudo isso é uma grande bobagem. Estou falando do final real mesmo, que são os caras do estacionamento falando: "O que será que está passando no outro canal". Isso sim é o importante do filme. O resto é só um prólogo, uma introdução, um prefácio, sei lá. Apenas uma encheção de linguiça pra introduzir (*ui*) o que realmente importa.
Achei essa cena uma parábola perfeita da vida. O que está passando em outro canal. Oras, não somos todos assim?
Pelarmordedeus, não tou falando de mídia ok? Não tou falando de nada dessas porcarias. Estou falando da vida! Estou falando de relações pessoais e sim, estou falando sobre o óbvio. Se vc quiser manter sua sanidade ou ainda não quiser me ridicularizar para todo o sempre, pare de ler exatamente AGORA!
Continuou? Fodeu-se. Pois bem. Todos somos versões simplificadas de um Show de Truman. Todos nós fazemos nosso show. Tentamos pateticamente, por vezes, mostrar alguma coisa que as câmeras não conseguem captar, mas convenhamos, não temos meios pra isso. A palavra é uma merda. Um meio patético de tentar se explicar aos outros. Não tem poder, nem a capacidade de ser clara. Sentimentos? Olhares? Gestos? Linguagem corporal? Bullshit. Tudo isso é apenas tentativas patéticas de se expor aos outros, tentar expor a própria essência e, convenhamos, nem de verdade queremos isso. O ser humano é um ator por definição. Afinal nossa essência não passa de nosso refúgio. É a única coisa que é verdadeiramente nossa e ninguém consegue sequer arranhar sua superfície. Não me venha com teorias Freudianas de análise. Sou catedrático nessa área. Aquela pequena singularidade (eca, redundância necessária) não é atingível. As vezes nem pra gente mesmo.
O que realmente varia de pessoa para pessoa é o instituto de pesquisa que levanta a audiência e a necessidade que se tem de um bom índice.
As relações pessoais nada mais são do que um zapear de canais. Alguns momentos onde podemos assistir algum programa interessantinho. Depois de algum tempo, mudamos de canal ou simplesmente desligamos a TV. Tá certo, existem pessoas mais intensas na nossa vida. Relações mais duradouras, marcantes, algo assim como uma novela das oito ou o Jornal Nacional. Temos um pouquinho todo dia, nos acostumamos, em certa medida precisamos assistir. Mas no fundo, lá no fundão mesmo o que queremos é Ibope. Um público cativo e fiel. O Ibope é que nos move. Queremos nos mostrar, queremos fazer o nosso próprio show. A alegoria de um cara preso numa redoma fazendo o show para milhões até que é bonitinha. Mas caráleos, todos carregamos nossa redoma pessoal e fazemos showzinhos pra uns, pra outros, todos os dias.
E o que dizer do ego? O ego faz o papel de diretor-roteirista dessa emissora de fundo de quintal. É ele que dita as regras do show. E é ele que se alimenta desse ibope todo.
Sinceramente não sei se minha vida de ermitão tá me levando à loucura, ou se cada vez mais tenho consciência real do mundo que me cerca. Mas, sinceramente, a única coisa que realmente eu queria era conseguir dormir.
Assistam meu show. Está em cartaz permanente, é só dar uma zapeada no meu canal. Eu prometo que não é dos piores :-P