Palavras, Provocações e Onomatopéias
Não acreditava no poder das palavras. Elas eram fúteis e inócuas pra expressar o que lhe ia na cabeça. Acreditava mais no poder dos espaços e pontuação. Afinal, eram neles que moravam suas provocações. Achava ridículo o termo "entrelinhas". Uma provocação pode morar entre duas palavras, tinha certeza. As onomatopéias eram substitutas perfeitas de frases inteiras, quando bem colocadas entre vírgulas, exclamações e alguns espaços. Talvez uma reticência aqui, uma interrogação alí, algumas vezes até em pares com exclamações.
As torrentes de palavras que obtinha em resposta a um simples "hãhã" bem colocado, seguido das indefectíveis reticências suscitavam discursos prolongados que deglutia com prazer, por estarem cheios de pontos, vírgulas e muitas, muitas interrogações.
Até o momento em que as provocações pararam de surtir efeito e, ao invés dos ecos prolongados em palavras, foram substituídos por uma sequência absurda de exclamações e pontos, que não eram finais, mas faziam surgir uma nova categoria, os pontos iniciais.
Tentou em vão usar onomatopéias até que o som que lhe chegou aos ouvidos provou que não existem onomatopéias o bastante pra descrevê-los. Não, não tinha mais sentido.
Tentou optar por palavras, rever os seus paradigmas, porém se viu de frente com um longo texto feito apenas de espaços em branco. Uma história a ser escrita com sorrisos e sussurros. Não cabia mais em papel...