Síndrome de Iôiô
Vários motivos o levaram a inventar o novo nome de doença. Não, hipocondria não foi um deles. Talvez o maior de todos os motivos tenha sido o fato de a essência de sua existência passar por uma divisão interna, preenchida totalmente por um rolo que, apesar de não ser realmente de barbante, era bem extenso e permitia a analogia.
Não, não era volúvel nem dado a indecisões, mas tinha uma propensão a idas e voltas sem tamanho. Tudo bem, talvez o termo iôiô não fosse o mais apropriado para a maioria que indubitavelmente o consideraria um brinquedo nas mãos das situações.
Mas foda-se a maioria, ele sempre dizia. O nome era interessante e pelo menos pra ele fazia todo o sentido do mundo. Principalmente porque quando ele ia, o rolo se alongava, alongava, diminuia e quando ele chegava não existia mais. O problema era a volta, que sempre fazia o rolo aumentar até o tamanho inicial. Por vezes ele achava que até crescia. Talvez existisse alguma sobra de barbante e que ele não sabia existir quando começava a ir.
Então chegou a hora de cogitações. Comprou um tesoura. Não sabia ainda se poderia usá-la. Mas sabia que quando finalmente se decidisse ele poderia ir, desenrolar aquele novelo todo, chegar ao limite de suas amarras. Quando lá chegasse, poderia usar a tesoura pra se libertar de todo aquele peso extra que sempre carregara. E então, só assim, voltar leve. Talvez com algo a preencher o espaço tão estupidamente ocupado até então por um rolo de barbante sem graça.